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Channel: Malicia de Toda Mulher
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Carta ao amor

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Era um tempo sem muita delicadeza. Você foi chegando obstinado, como fazem os homens quando querem ganhar uma mulher. Um certo ardor que ardia em mim quando o seu corpo chegava perto e fatalmente não fui capaz de resistir ao homem que és.
Sim. Isso tudo poderia ser uma história ardente de paixão. Mas paixão quando arde muito uma hora arrefece, até que deixa de causar o tal do “frisson”. Aí tudo vai ficando estranho, e quando a gente menos espera já virou uma página solta voando na lembrança. 
Esse não é o nosso caso, porque acabou antes de queimar até o fim. Abriram-se novos caminhos e os passarinhos voaram separados, aferrolhados em outros compromissos.
Em alguns momentos você se recorda de pessoas que foram importantes. Sim, natural que assim seja. Mas no seu caso nunca foi só mera recordação como a reminiscência vazia de outros caras. Havia um sentimento pulsando que, de fato, até me incomodava por existir. Uma sensação de não vivido. Taça não esgotada. Como se a obra tivesse sido deixada pela metade.
Há dias em que saimos de casa e nada de novo acontece. Em outros novas pessoas aparecem e passam a fazer parte do convívio. Mas ainda há dias de retorno. É sobre isso que quero falar.
Você foi o “retorno do terno”, como muito bem soube expressar o título de Rubem Alves, que por sinal você precisa ler. Nem chegou tão terno assim, dada a sua natureza barulhenta, mas foi virando ternura, tanto que dentro de mim fui vendo renascer aquele ardor. E não era o ardor de queimar como a chama impiedosa que dissipa até fazer o pó. Mas como o ardor de um Sol, que aquece o mundo e mesmo doando, dando luz todo o santo dia, nunca se desgasta.
Assim me sinto quando digo que te amo. Como o Sol. Te amo e não é amor de chama que se apaga, como diria Vinicius. Te amo, e é amor de Sol que mesmo quando arde muito, não se esgota.
Aquele não era um tempo de delicadeza. Mas agora é. Hoje eu me lembro de ter saido as pressas pra cumprir os afazeres e antes de sair eu abri a janela. Aí eu olhei o Sol, e nem com toda pressa do atraso, nem mesmo com pressa, eu deixei de agradecer ao ser divino que inventou de escrever essa nossa história. Ele fez o que quis. Uniu, separou, juntou, brincou, acho até que riu da gente. Mas ele sabia o que tava fazendo desde o princípio e certa estou, onde estiver esse cara, lá está ele, feliz da vida toda vez que digo “te amo”.


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